IMAGEM DESTACADA: Mais um Café emblemático de Buenos Aires listado dentre os 73 notáveis da cidade. A origem de seu nome é controversa, mas isso é de somenos importância. Não é meu caso, mas creio que a maioria das pessoas que visitam o Café Tortoni não se importa com sua história. Também pudera: ao adentrá-lo o queixo cai e considerar sua história em um momento de impacto desses, só mesmo uma chata igual a mim vai se lembrar disso.
Não há como ficar indiferente à atmosfera envolvente do Café. O negócio é encontrar um lugar, aboletar-se, encaixar o queixo caído e curtir a casa.
Já disse em outra postagem que ao percorrer o que há de mais tradicional na cidade volto no tempo e me imagino fazendo parte daquele contexto.
Sou apaixonada por tudo que lembre um passado que, conscientemente, não vivi, e Buenos Aires não escapa desses rompantes de paixão. Buenos Aires e outros lugares que tive a felicidade de conhecer. Acho que por isso sou apaixonada por antiquários – sinto-me “em casa”.
Acredito na existência de vidas passadas e tenho certeza de que já vivi e vivenciei esses lugares que tanto amo. Minha alma os reconhece – só pode! Nada, além disso, justifica esse bem estar inexplicável…, essa felicidade que sinto ao (re)encontrar um lugar com história prá contar.
UM POUCO DE HISTÓRIA
No endereço atual o Tortoni se estabeleceu em 1880, mas a entrada que conhecemos só passou a receber seus clientes e admiradores a partir de 1898, após a abertura da Avenida de Mayo, em 1894; antes disso a clientela entrava pela Avenida Rivadávia.
Figuras renomadas passaram pelo Café Tortoni, incluindo Juan Carlos de Borbón e Albert Einstein; famosos mais populares como o desportista Juan Manuel Fangio e o admirado cantor Carlos Gardel também não poderiam faltar.
O preferido cantor dos argentinos adentrava o Café para se reunir aos amigos, discretamente, pela entrada da rua Rivadávia. Motivo: não ser incomodado por seus admiradores.
O Café Tortoni dispõe de ambientes mais acolhedores para clientes que preferem ficar um pouco distante do burburinho do salão principal. A sala acima é uma delas.
Homenagem do Tortoni ao encontro assíduo dos amigos Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (escritor), Gardel e Alfonsina Storni (poetisa e escritora argentina do modernismo). Os três reuniam-se neste canto discreto do Café.
O sub-solo era ponto de encontro para escritores, jornalistas, pintores e músicos. Esse grupo, batizado de “La Peña” e cuja sede passou a se chamar Agrupación de Gente de Artes y Letras, foi liderado pelo pintor Benito Quinquela Martin. Seu objetivo era reunir pessoas com interesses comuns. Abrangia esportes, festas populares, atividades culturais e até gastronômicas.
Foi inaugurado em 24 de maio de 1926 e terminou suas atividades em 1943.
O proprietário do Café Tortoni naquela época, um senhor francês de nome Dom Celestino Curutchet, apoiava incondicionalmente essas reuniões culturais em seu estabelecimento.
Segundo sua ótica, esse grupo que promovia palestras, recitais, conferências e concertos atraíam seleta clientela. E tinha razão porque os frequentadores dessas apresentações eram pessoas de renome: um deles, Arthur Rubinstein, foi considerado pelo The New York Times como um dos melhores pianistas do século XX. Conrado Nalé Roxlo, escritor, periodista, roteirista, humorista argentino e também premiado como escritor, era outro frequentador assíduo, sem contar Alfonsina Storni, poetisa e escritora argentina.
O Café Tortoni continua sendo assiduamente frequentado, mas por outro tipo de platéia: turistas de bom gosto do mundo inteiro que fazem questão de apreciar um dos cenários mais atuantes da História da Arte de Buenos Aires no passado.
Nosso objetivo era conhecer o Tortoni e por isso só pedimos café e waffles – que chegaram quentinhos à mesa. Valeu demais!
Não satisfeita de nos levar de volta para o passado, na máquina do tempo das imagens apresentada, ainda, como sempre, nos dá uma incrível aula de História.
Rosinha, a Argentina, tal qual outros países europeus por onde passei, tem memória! Trouxe o passado para o presente e nele vive, fazendo questão de preservá-lo. De tombá-lo por seu valor arquitetônico ou histórico. Diametralmente oposto ao país em que vivemos. Em São Luiz, prédios maravilhosos desabaram por abandono e outros estão caminhando para o mesmo fim. Quantos edifícios maravilhosos foram destruídos no Rio? O Palácio Monroe foi um deles, só para começar. O problema é cultural. Infelizmente.
Beijocas, amiga e obrigada por seu comentário.