1 – O PALÁCIO DE TÁBUAS
Foi a residência oficial do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, até 1959, no período em que ele acompanhava as obras de construção da futura capital do Brasil.
IMAGEM DESTACADA – Rascunhado em um guardanapo de papel por Oscar Niemeyer, o Palácio de Tábuas, conhecido como “Museu do Catetinho”, completou 68 anos em 10 de novembro de 2024.
2 – COMO CHEGAR ao MUSEU DO CATETINHO
BR 040, Km 0, Trevo do Gama/DF. Fica próximo ao Gama e a Santa Maria.
Em transporte público: consulte o site neste link, clicando aqui.
O lugar poderia ser mais bem sinalizado. Visitei-o em companhia de duas primas residentes em Brasília, e mesmo assim, sob orientação do GPS, erramos o caminho.
Telefones: (61) 3338-8803 / (61) 3386-8167
Horário de atendimento: segunda-feira – Fechado / terça-feira – 09:00–17:00 / quarta-feira – 09:00–17:00 / quinta-feira – 09:00–17:00 / sexta-feira – 09:00–17:00 / sábado – 09:00–17:00 / domingo – 09:00–17:00.
Ingresso: entrada franca
3 – A FORÇA DA ÁGUA
O que dizer de um homem que se propôs erguer – e conseguiu! – uma cidade super moderna em um cerrado no centro de um país? Comecemos por “delirante”.
Incentivaram-no a cometer tamanha loucura ou tentaram demovê-lo de idéia tão extravagante e dispendiosa?
Acontece que o corajoso, otimista e impulsivo presidente não se deixou abater por comentários contrários a seu ideal. Cercou-se dos mais renomados arquitetos e engenheiros brasileiros e lá foi ele, rumo ao centro do país, com a mala transbordante de força e sonhos que se concretizaram em abril de 1960.
E se você der uma volta onde está o olho d’água batizado como Tom Jobim, poderá ter a real dimensão do que foi construir a Brasília que conhecemos, tendo como ponto de partida um golpe de enxada em meio à vegetação do cerrado. Aí sim, meu querido, você poderá se perguntar se teria coragem, força e sabedoria para edificar qualquer coisa no meio no nada…
Foi justamente esta fonte que motivou a construção do Palácio de Tábuas em sua proximidade – garantia de abastecimento de água para todos os envolvidos na obra e para o próprio Catetinho.
A estátua de Juscelino foi colocada de frente para o primeiro prédio erguido em Brasília – o Palácio de Tábuas -, atualmente plantado em meio a um jardim descompromissado com qualquer estilo, além de carente de cuidados.
Particularmente, penso que poderiam dar mais atenção a tudo que envolva não a “pedra fundamental”, mas à literal “água fundamental” que fez brotar a capital do Brasil. Nem o museu e nem os visitantes merecem esse descaso.
4 – DILERMANDO REIS x O PRESIDENTE BOSSA NOVA
A história do Catetinho, apelido dado pelo violonista Dilermando Reis ao Palácio de Tábuas, é contada em vários painéis fotográficos espalhados pelos cômodos do museu. Na sequencia abaixo você poderá ter idéia da ousadia desse empreendimento.
Dilermando foi professor de violão das filhas de Juscelino. Quem sabe, tenha sido esse o motivo de sua presença constante ao lado do presidente e gozasse de prestígio e consideração de sua parte? Embora um violão conste da lista de objetos pertencentes ao patrimônio do Catetinho, tombado pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), nenhum instrumento de cordas chamou-me atenção. É fato que alguns objetos foram recolhidos pelo Arquivo Público e talvez por este motivo não estivesse mais exposto no museu.
4.1 – MAIS DILERMANDO REIS
Sem dúvida, a presença de um violão em um dos cômodos do palácio seria uma grande homenagem ao artista, além de reforçar a suposta admiração e afeto do “Presidente Bossa Nova”, tão cantado por Juca Chaves, pelo professor e seresteiro Dilermando Reis.
Juscelino gostava de música e era conhecido por sua preferência musical: serestas, que muitas vezes furtaram o silêncio em que ainda permanece mergulhado o Palácio de Tábuas – quietude tantas vezes interrompida pelo vibrar de cordas do instrumento de um dos maiores violonistas brasileiros. Dilermando Reis encantou Juscelino, convidados do Catetinho e seletas platéias.
5 – PLANTA BAIXA DO PALÁCIO
Cinco suítes, uma sala de despachos, uma cozinha.
No térreo, em meio a pilotis sem paredes, uma mesa de muitos lugares onde todos faziam as refeições.
Quem o visita jamais imaginará que esse palácio provisório foi construído em apenas dez dias! Durante três anos foi ocupado por Juscelino e sua equipe (de 1956 a 59) todas as vezes que precisavam acompanhar o andamento das obras de Brasília.
Todos os banheiros do palácio contavam com banheiras, chuveiros e bidê. Uma das suítes era ocupada pelo presidente; outra, por Oscar Niemeyer; uma terceira, por Bernardo Sayão, engenheiro responsável pela construção da nova cidade e de quem pouco se fala. Havia ainda suíte para hóspedes.
Abaixo, uma bolsa da saudosa Panair, companhia aérea envolvida em acusações de favorecimentos. Era a eleita para transportar até material de construção para a futura capital do Brasil, que seguia do Rio de Janeiro ou do interior de Minas Gerais.
Para a época, os móveis moderníssimos que substituíram os “defasados” estilos art-déco e chipandelle foram os famosos pés de palito. Sofá e poltronas lindas (adoro!) de desenhos audaciosos iguais aos que se vê na foto abaixo, tornaram-se objetos de desejos dos consumidores mais “avançados e moderninhos” dos anos 60.
A confortável e espaçosa sala de despachos composta por mobiliário de design arrojado para a época e que ainda hoje faz sucesso. Móveis do estilo “pé de palito” só encontramos atualmente em brechós chiques ou antiquários, a preços bem salgados.
O museu peca – e muito! – pelo estado de conservação de objetos que contam não só a história do palácio, mas a de uma época. É lastimável!
Que mulher, na década de 60, não almejou ter uma frasqueira atravancando a prateleira do armário? Como era chic essa bolsinha incômoda, que carregávamos mais por exibição que por outra coisa. Carregava minha frasqueira como quem exibia um troféu. Tornou-se popular demais e depois, como tudo que é moda, morreu.
Imaginei como devia fazer calor nessa cozinha, principalmente no Verão: fogão à lenha, teto sem laje, altas temperaturas no lado de fora da janela e no lado de dentro!
Em cima do armário ficavam os “fifós” – lamparinas a querosene -, quebra-galho na falta de luz; nos quartos, lanternas a querosene, de melhor aparência, entravam em cena nesses casos. Mas, como cozinha é cozinha…
Ferramentas utilizadas para semear os primeiros caminhos de uma cidade que brotaria após três anos de construção.
Juscelino cercava-se não só de políticos, arquitetos e engenheiros. O presidente gostava de música e por isso vez ou outra era fotografado ao lado de famosos músicos, compositores e cantores, que vira e mexe estavam no Catetinho fazendo-lhe companhia.
Em 1959, Tom e Vinicius foram convidados por Juscelino para se hospedarem no Catetinho. O objetivo era compor uma sinfonia em louvor à Brasília, que seria executada no dia de sua inauguração.
Certa noite, ambos ouviram barulho de água – a nascente fica bem próximo ao edifício -, e perguntaram ao vigia que barulho de água era aquele e o vigia responde: “- É água de beber, camará.” E daí surgiram os primeiros versos da música em que você está pensando – essa mesma: Água de Beber.
Quem lhes fazia companhia era Kleber Farias, um dos engenheiros construtores de Brasília. Foi ele que teve o privilégio de ouvir a primeira música composta na cidade que sequer havia sido inaugurada…
Repeteco: A fonte não serviu apenas como inspiração para Tom e Vinícius. Muito mais que isso, foi por conta desta mina de água pura que optaram por construir o Catetinho em sua proximidade. Ela garantiu o fornecimento de água para tudo e para todos, durante a construção do Palácio de Tábuas.
O texto resulta de observações de um grande amigo jornalista que habita em Brasília há anos e é apaixonado pela cidade. Informações complementares, basta seguir os links.
BRASILIA FOI INAUGURADA EM 21 DE ABRIL DE 1960.
QUE LUGAR DELÍCIA, HISTÓRICO E FONTE DE MUITA SAUDADE DESSE TEMPO.
Amiga, esse museu é fantástico! Pena que não esteja sendo cuidado como deve. Objetos espalhados pelos cômodos trazem saudade. Muita saudade daquele tempo, como você bem disse. Bjks.
Amiga, mais uma vez li sua experiência no Catetinho já me transportando no tempo. Adoro a trajetória de Juscelino e me orgulho que pelas mãos desse destemido mineiro de Diamantina o interior do Brasil passou a ser mais povoado e desenvolvido. Quanto a você, amiga, primando pela qualidade de seus textos, como sempre. Abraço!
Rodrigooo!!! Obrigada, amigo. Fiquei emocionada ao entrar no museu e mais ainda quando adentrei a mata do entorno. Que homem corajoso! Também aprecio Juscelino. Foi um desbravador. De qualquer forma, um Bandeirante. Abraços, amigo, e obrigada por seu comentário.