Em janeiro deste ano de 2015 comecei a escrever a respeito da trilha que leva à Praia de Naufragados, mas sempre há o que escrever a respeito desta praia. Por este motivo adotei a idéia de datar as atualizações, conforme se vê no final da postagem.

TEMPO DE CAMINHADA – Não era de hoje que ouvia falar nesta trilha e no tempo gasto no percurso – bastante variável, por sinal -, porque dependerá da agilidade de cada um. Eu e meu amigo, ambos com 68 e 75 anos de idade na época, levamos em torno de 1.30 horas. Clique aqui para saber mais informações.

IMAGEM DESTACADA – Farol de Naufragados, Sul da Ilha de Santa Catarina.

 

1 – RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES E NÃO CUMPRIDAS

“Quarenta minutos” é a média, diziam uns – jovens, evidentemente. Para outros, “cinquenta… mais ou menos uns cinquenta minutos”. Tava subindo a cotação quando batemos o martelo ao ouvirmos que o percurso de 3 km poderia ser coberto em uma hora. Beleza!
Levem sapatos leves! Tênis é o melhor calçado. Não se esqueçam do repelente! Água! Não deixem de levar água e um lanchinho!, e por aí vai. As recomendações foram muitas, mas de apenas uma nos lembramos ao escalarmos aquela montanha cheia de pedras, de raízes e de umidade: dos benditos tênis.

 

 

 

 

 

 

2 – DOIS NÁUFRAGOS NA TRILHA

Havia chovido e boa parte do terreno estava bastante encharcada, o que nos fez escorregar algumas vezes.
Com cara, coragem, uma bolsa de praia grande cheia de tralhas, óculos escuros e sandálias de borracha – mais “leve”, impossível – lá fomos nós mata a dentro sem o repelente, sem a água e ainda por cima carregando a tal bolsa grande cheia de tralhas. Levamos 1 hora e 30 minutos no percurso, contando por baixo.
Um casal que saiu do estacionamento junto conosco, passou nossa frente e logo, logo sumiu na trilha. Também, pudera! Eram jovens e ainda por cima calçavam os benditos tênis. Um pouquinho mais prá frente outro casal também passou por nós e fez poeira. E assim, como vez ou outra alguém passava por nós “dôsh” (sotaque manezês do número 2) e sumia, começamos a desconfiar que estávamos demorando muito na caminhada e veio a dúvida: será que um dia chegaremos a Naufragados?

 

3 – MAIS LENTOS QUE RUBINHO BARRICHELO

Mas esse ritmo à la Rubinho Barrichelo teve vantagens e explico o porquê. Escorreguei em uma descida e prendi o pé embaixo de uma pedra onde deixei baita amostra de meu DNA.
Felizmente, outro trilheiro que nos alcançou – um senhor de nome João com quem fizemos amizade a ponto de trocar endereços (isso é que é trilha!) -, ajudou meu amigo a içar meus oitenta quilos e me colocar novamente nos trilhos; isto é, na trilha.

 

4 – TRILHA ou ESCALADA?

Escalamos bom pedaço do que chamam de trilha no maior papo. E como não podia ser diferente, a conversa versou sobre autoajuda, doenças, novidades em medicamentos, religião, futebol, Carnaval, clima, programa de TV, família… Os assuntos variadíssimos.
Logo depois despediu-se de nós em uma bifurcação que leva ao Farol de Naufragados e também sumiu na mata desejando-nos boa sorte. Eu João nem desconfiava, mas era justamente disso que precisávamos.
Concluímos que esta foi a vantagem da lentidão, sabe por que? Caso estivéssemos em ritmo acelerado, não teríamos conhecido pessoa tão agradável, simpática e prestativa. Lembram do içamento? Pois é!… Quem sabe, eu não estaria presa naquela pedra até hoje? O pessoal que passava por nós ia em tamanha velocidade, que nem se dava conta de que eu estava com metade do pé embaixo da pedra.
– Vai que ela tá fazendo um ritual aqui na mata? Podiam pensar nisso e, quem sabe, passavam batidos.

 

5 – PERGUNTAR NÃO CUSTA NADA. É OU NÃO É?

Como a trilha não tem indicação alguma, paramos um senhor que vinha em sentido contrário (foi de uma alegria tamanha encontrar alguém na contramão) e perguntamos se estávamos certos, coisa e tal. Com a firmeza de quem conhece a trilha de cor e salteado, ele nos respondeu afirmativamente e ainda nos orientou rapidamente como fazer quando chegássemos a um lugar assim, assado (o que demorou prá caramba!..), e continuou a descer. Repentinamente, voltou-se para nós e gritou: – Daqui a pouco estou de volta!… Tudo bem.
Aconteceu que não demorou muito estava ele atrás da gente e ainda por cima acompanhado de uma senhora que devia beirar seus 60 anos de idade. E gorda. Mais do que eu. Passaram por nós – grande novidade! -, e ele ainda gritou lá da frente: – Vocês estão muito devagaaar!…, curtindo com a nossa cara. Só podia.

 

6 – AFINAL, QUANDO CHEGAREMOS A NAUFRAGADOS?

E nosso objetivo não chegava nunca… Ah! E antes que me esqueça: perguntamos ao tal senhor se ainda faltava muito e ele respondeu que não. Que só faltava uma subida, uma descida, uma reta, depois mais uma subida, outra descida, mais uma reta e aí vinha a praia. É rápido. Prá quem, cara pálida?
Ao chegarmos – finalmente! – trêmulos à Naufragados, a recompensa foi a paisagem deslumbrante; e o mar, que normalmente é violento naquele extremo (o nome “Naufragados” faz jus às embarcações que foram a pique nesta região), estava razoavelmente tranquilo. Também… alguma coisa boa tinha que acontecer depois de tanto sacrifício, né não?
Almoçamos pastéis de camarão e queijo – deliciosos -, e ao entardecer voltamos de barco ao nosso ponto de partida.
No barco de quem? Daquele senhor que havíamos encontrado na trilha e que curtiu com nossa cara. Adoramos. Mundo pequeno esse… Melhor dizendo, trilha pequena essa…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se pela foto você está achando bonito, imagine esta mata ao vivo e em cores. Canto de pássaros, barulho de água, um mosquitinho aqui e outro ali a devorar a gente em doses homeopáticas, lama…Tudo faz parte da natureza. Numa boa.

 

 

 

 

6.1 – CHEEE-GAAA-MOOOS!

 

E estávamos. Essa casa foi o aviso de que estávamos, finalmente, na civilização. Sãos e salvos, nem bem chegamos à praia e já estávamos preocupadíssimos com a volta. Afinal, pelo tempo que levamos até chegarmos à mosca de nosso alvo, não poderíamos permanecer na praia por muito tempo.

 

 

 

 

7 – FORTALEZA DE N. S. DA CONCEIÇÃO DE ARAÇATUBA

Esta fortaleza foi a única construída com o objetivo de proteger a baía sul da Ilha de Santa Catarina. Quem a projetou foi o brigadeiro português de nome José da Silva Paes e entre 1742 e 1744 ergueram-na nesta ilha desprovida de cais e de praia.
Em 1980 foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Devido a seu péssimo estado de conservação, em 1991 sofreu alguns reparos emergenciais tais como escoramento. 
Barcos que saem da Caieira da Barra do Sul, onde começa a trilha para Naufragados, e da Praia do Sonho, na Palhoça, levam interessados em ver a fortaleza de perto. 
LEMBRE-SE de que o mar é violento nesta parte e que o nome Praia de Naufragados tem origem em barcos que foram à pique justo nesta região. Além disso o forte não é aberto à visitação devido seu mau estado de conservação e pertence ao Exército Brasileiro –  é área de preservação. E quem tiver a idéia de ir a nado, é bom desistir devido às fortes correntes naquela região. 

 

 

 

 

 

 

 

8 – FAROL e CANHÕES

Para se chegar ao farol e aos canhões basta seguir à direita na bifurcação de onde nos separamos de nosso amigo João.
Segundo informações de minha prima, antes de se alcançar este ponto histórico da ilha há outra bifurcação.
Segundo seu relato, a trilha da esquerda que segue até a praia é estreita, difícil (só fiquei imaginando quanto) e perigosa porque margeia o mar. Seguindo à direita, chega-se ao monumento.

9 – VITÓRIA!

Aos poucos Naufragados foi ficando para trás, deixando em cada um de nós a sensação de que fomos vitoriosos de alguma forma. Isto porque, apesar da idade já avançada (68 e 75) conseguimos vencer nossas dificuldades.
O percurso não foi fácil, mas serviu para nos certificarmos que estamos preparados para vencer obstáculos semelhantes e que ainda há tempo para desfrutarmos de novos e desafiantes caminhos. Hein?

 

 

 

10 – FINAL FELIZ

Havíamos nos prometido fazer essa trilha há muito tempo e finalmente conseguimos.
Valeu cada escorregão, cada mordida de mosquito, o peso da bolsa, os tropeços, as paradas para tomar fôlego (foram incontáveis), os calçados inadequados … Enfim, valeu tudo. 

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Isso foi em 2015 e hoje estamos em 06/8/2019. Passei aqui para fazer uma revisão, reli a aventura e posso lhe garantir o seguinte: agora, em vésperas de completar 73 anos e meu amigo completando 80 primaveras amanhã, asseguro que não retorno à Naufragados  NEM DE BARCO, mermão! NEM DE BARCO! Nesta altura do campeonato, só de helicóptero.

Nova revisão em 03/8/2020.
Postagem atualizada em 12.01.2025.