LAGO TITICACA e UROS
PUNO é uma cidade de 125 mil habitantes. Aparece em quinto lugar entre as cidades mais altas do mundo – sua topografia oscila entre 3.810 e 4050 metro acima no nível do mar. Puno é a cidade ponto de partida para quem deseja visitar o
Foto em Destaque: Barcos manufaturados em totora, uma das atrações do Lago Titicaca.
VISTA PARCIAL DE PUNO.
O Lago Titicaca faz fronteira com a Bolívia. Possui 8.490 km² de superfície e 280 metros de profundidade.
A principal atração de Puno posiciona a cidade em quarto lugar no ranking das cidades mais procuradas por turistas, perdendo apenas para Lima, Cusco e Arequipa.
COMO CHEGAR
De Lima a Puno você enfrentará 17 horas de estrada com uma parada em Arequipa. Entretanto, esse tempo de viagem diminui consideravelmente caso você opte pelo avião.
A viagem ficará em torno de 1.50 horas, mas… o aeroporto fica na cidade de Juliaca, a 45/60 minutos de Puno.
Há voos de Lima, Arequipa e Cusco para Juliaca, além de trens provenientes de Cusco e Arequipa com opções de classes.
Você poderá ter uma idéia da viagem de Cusco a Puno por trem, clicando aqui.
LAGO TITICACA – PARTIDA PARA UROS
Uros é como são chamadas as ilhas artificiais construídas por peruanos e bolivianos sobre as águas do Lago Titicaca.
O material empregado é a totora, uma planta aquática (foto) facilmente encontrada em regiões pantanosas da América do Sul e abundante na região. Assemelha-se ao familiar junco (utilizado em larga escala no Brasil pela industria moveleira), igualmente encontrado em terrenos alagados e úmidos. Atinge entre 1 e 3 metros de altura.
O Lago Titicaca, na região de Puno, conta com mais de 80 dessas ilhas (segundo informações do guia que nos acompanhou nesse passeio), e abriga cerca de 300 famílias.
A totora entra na construção das ilhas flutuantes (uros) e tudo mais que a imaginação permitir: as moradias (paredes e tetos), os colchões, as embarcações, os postos de atendimento médico, restaurantes, cafés, escolas e até hotéis são manufaturados! com esse material que a natureza lhes oferece em abundância.
Essas “formações insulares” puramente artesanais, se é que podemos dizer assim, acabaram por formar uma cidade.
Cada ilha comporta um número X de habitações, dependendo de sua extensão.
Desentendimentos entre habitantes de ilhas vizinhas algumas vezes são vingados com o corte das cordas que servem para ancorá-las, deixando-as à deriva. Já imaginou uma situação dessas? Você dorme no Peru e acaba acordando na Bolívia?
O DESEMBARQUE
Assim que chegamos, fomos convidados a sentar em um amarrado de totora a fim de assistirmos, literalmente, a uma aula de geografia de nosso guia e outra de técnica de construção e funcionamento pormenorizado das ilhas desde a colheita da matéria prima.
Até os cuidados redobrados com a utilização do fogo o guia incluiu na palestra e achei muito interessante.
Material de fácil combustão não falta, motivo pelo qual cozinham ao ar livre. Terminadas suas tarefas, o fogo é imediatamente apagado.
Banheiros funcionam precariamente, e depende de você, imaginar como seja o ritual de higiene ao sair do banheiro. Não pense que vai encontrar sabonete para lavar as mãos, uma toalhinha ou álcool em gel, porque isso seria esperar demais.
Pense nos habitantes das mais de 80 ilhas. Pensou? Agora imagine onde esse expurgo todo vai parar. Imaginou? Pois é… É lá mesmo onde você está pensando. Quem sabe, por conta disso, a totora não atinja seus 3 metros de altura? Adubo não falta…
Continue imaginando… De onde vem a água que utilizam para cozinhar? E a do banho? Não perguntei, não pesquisei e nem quero pensar, levando em consideração que comi algo parecido com um biscoito que nos ofereceram assim que chegamos. Ai! Se arrependimento matasse não teria feito um monte de bobagens que agora compartilho com você para alertá-lo.
A propósito, tive a sorte de encontrar no YouTube um vídeo que poderá lhe mostrar a real situação do que acabei de escrever. Caso interesse, dê uma olhada nesta filmagem de Duone Latino.
AVISO AOS NAVEGANTES
Evidentemente, se estivesse atenta, agradeceria educadamente pela gentileza da anfitriã, mas não comeria o dito biscoito. Agora, para quem estiver a fim de adquirir anticorpos, aconselho mergulhar fundo nos biscoitos e no lago. Caso sobreviva, me conte.
Mais tarde, no hotel, eu e meu fiel escudeiro começamos a relembrar determinadas cenas dessa visita e observamos o seguinte: assim que chegamos, cada anfitriã tratou rapidamente de separar os casais e conduzir cada um de nós para uma cabana.
Distraí-me com a paisagem e quando olhei para o lado não vi meu escudeiro. Ele já havia sido abduzido pela anfitriã de uma casa, e eu sendo raptada por outra. Fui levada para um lado e ele para outro. Perdemo-nos de vista com a rapidez de quem furta!
Nem precisamos pensar muito para entender o porquê da manobra. Separar os casais trata-se de uma estratégia muito bem bolada, mas que me irritou profundamente quando me dei conta da tática.
Um casal que visitasse uma cabana, faria apenas uma contribuição, vamos dizer assim. Com essa técnica, os simpáticos anfitriões acabam recebendo donativos de todos!
Meu fiel escudeiro compartilhou seus soles em uma cabana e eu em outra.
Vimos que os uros que permanecem na ilha (idosos e crianças) vivem em condições precárias e não nos custaria, obviamente, compartilhar alguns soles. Acontece que a abordagem é insistente, pegajosa e totalmente desnecessária. É isso que me desagrada! Não se trata de um passeio puro e simples entre as ilhas flutuantes… nada disso. A embarcação sai do cais com direção certa para uma dessas ilhas “turísticas”. Isso não é turismo! Por isso não me canso de dizer: se estivéssemos por conta própria, não saberíamos da existência desse tipo de “negócio”. Puno “vive” em função do turismo.
Afinal, o que fomos fazer lá? A cidade não oferece nenhum atrativo a não ser o Lago… Viajar 6 horas de ônibus de Cusco até Puno, pernoitar duas noites e depois enfrentar mais uma hora de estrada até Juliaca para pegar um avião para Lima não vale o cansaço, o tempo gasto e … melhor parar por aqui.
Na cabana que visitei um jovem de seus 15 anos insistiu para que eu e outra senhora sentássemos em uma cama larga, mas resistimos. Prá que isso?
As mulheres beijaram-nos no rosto algumas vezes seguidas, independente de nossa vontade. Nem preciso dizer que não gostei dessa abordagem – aliás, de nenhuma delas – e fiz sinal para que parassem, muito agradecida.
Essa mesma companheira de viagem não se deixou vestir por roupas típicas que estavam penduradas em um cabide dentro da cabana. Deveria ter feito o mesmo, mas acabei cedendo. Confesso que me senti desconfortável naquela situação, mas para não ser de todo desagradável, acabei vestindo uma saia, um colete e colocando um chapéu para pousar para uma foto-mico providenciada pela própria peruana. Finalidade? Receber alguns soles pela foto. É armadilha em cima de armadilha!
Quando me vi na foto, lembrei-me do balão em que voamos em Roussillon, no sul da França Gorda e colorida de cima a baixo, eu era o próprio, aterrissado em Puno. Mereço.
Meu fiel escudeiro não aceitou as abordagens, mas em compensação deixou-se levar pela emoção e foi às lágrimas, li-te-ral-men-te, ao ver uma menina deitada na cama com um pano sobre a testa e em estado “febril”. Segundo a anfitriã, fazia dois dias que a criança estava nesse estado e ainda não havia sido medicada.
Generoso e emotivo, meu escudeiro não contou até dois: abriu a carteira e deixou 150 soles na mão da tal senhora a fim de que comprasse medicamentos para a menina. Apoiei-o incondicionalmente pelo nobre gesto, mas depois …
Quase alforriados, na hora da saída ainda fomos convidados para passar pelo setor de vendas da ilha onde artesanatos estavam sendo oferecidos entre choramingos e altos preços. Adquiri dois pingentes e dei por encerrada a seção de inconveniências e explorações. Literalmente.
De volta ao hotel, ao trocarmos impressões a respeito dessa experiência com outros companheiros, ficamos sabendo que alguns ilhéus possuem casas na cidade – dito pelo próprio guia!
Diante do que vi, no final acabei me perguntando: – Estaria aquela menina, realmente, febril?
NOTA: As ilhas são dotadas de placas para captação de energia solar que lhes garantem sinal de TVs, carregamento de baterias (celulares, tablets …). E a água? Fervem a água do lago para cozinhar, tomar banho, escovar dentes? Cismei com a água…
Cuidado! Muito cuidado com a falta absoluta de higiene. Depois não diga que não foi avisado.
Oi, Rosa. Tudo bem?
Vou para o Peru em menos de 10 dias e este post me fez decidir pegar uma excursão alternativa no Titicaca: Taquile, Península de Llanchon e uma ilha flutuante que não é a que a maioria vai. Já tinha lido vários relatos de pessoas que se sentiram incomodadas com a “experiência” nas casas.
Os posts têm me ajudado bastante. Já risquei o Rafael da minha lista de restaurantes em Lima, mas vou ao El Mercado, que é do mesmo chef. Vi também que você já foi ao Maria Lola, em Ushuaia. Lembro muito bem deste restaurante e meio que tenho um carinho por ele.
Oi, Alexandre! Quem lhe escreve é Marilia, autora do Istepô. Tudo bem? Rosinha é minha amiga, que escalei para moderar o blog.
Primeiramente, gostaria de lhe agradecer pelo comentário e por acompanhar o blog.
Conte prá gente, se possível, como foi sua experiência no Titicaca ao retornar de sua viagem. Essa experiência que tivemos nas casas foi muito, muito desagradável. Fico imaginando uma hospedagem em um daqueles hotéis… Os dejetos vão todos para o lago. Imagine isso!..
Fico muito feliz que as postagens tenham lhe ajudado, Alexandre. São memórias de viagens e ainda tenho muita coisa para postar. Para quem começou a viajar em 1985 para o exterior, a carga é bem grande.
O El Mercado é sensacional, você vai gostar. E se quiser curtir uma experiência única, o IK é surpreendente.
O Maria Lola é muito bom; gostamos de tudo.
Alexandre, seja bem-vindo. Você não imagina como seu comentário auxilia meu trabalho.
Muito obrigada! Abraços e… boa viagem!
Marilia.
Oi, Marilia! Desculpe ter trocado os nomes.
Pode deixar que eu volto para contar como foi. Sobre o IK, também está na lista, assim como o Central, Pescados Capitales e o La Mar.
Um abraço e obrigado!
Não há do que desculpar, amigo! Você está com uma lista excelente. O Pescados Capitales é bem descontraído – adorei. Não cheguei a ir ao La Mar – ficará para a próxima para quando você retornar e nos contar. Abraços e boa viagem! Seja sempre bem-vindo ao Istepô.
Marilia.
Deixa eu contar como foi minha experiência no Titicaca.
Reservei a excursão Titicaca Uncovered, da Edgar Adventures. A saída foi cedo, às 7:15, pegamos mais duas pessoas no caminho e nos juntamos a um grande grupo no porto. O barco era o expresso, pois visitaríamos 3 lugares no lago e nele cabiam umas 40 pessoas. O grupo era quase todo europeu, muitos holandeses. De brasileiro, só eu.
O guia foi contando os dados sobre o lago e em uma hora chegamos na Isla Taquile. Paramos na parte sul, menos turística, toda rural. Fomos caminhando por uma trilha tranquila (alguns ficaram sem fôlego, talvez por causa da altitude), fazendo paradas para explicações. Nos arredores, plantações de milho, favas e quinoa, algumas ovelhas passeavam e deixavam rastros.
A ilha era e ainda é bastante isolada. Naturalmente, hoje os habitantes tem placas de energia solar, vão para Puno uma ou duas vezes por semana, mas até pouco tempo atrás, tudo era na base da troca. Até hoje os códigos sociais são muito rígidos. Cada comunidade tem seu representante, que se reune com os outros representantes aos domingos para discutir os problemas da semana. Quem é solteiro não pode ser representante. Também não pode beber, não pode opinar e veste roupas diferentes das dos casados ou noivos. Não têm, por exemplo, uma bolsa para carregar folhas de coca e a faixa na cintura não é tão adornada como a dos casados.
Depois da trilha, sentamos num “pátio” para uma demonstração de como lavam e tecem a lã. Como em Chinchero, utilizam produtos naturais, mas em vez de uma raiz, usam folhas de um arbusto local, que também faz espuma como sabão. Enquanto as mulheres lavam, fiam e tecem, os homens fazem crochê. Um homem só pode casar depois que aprende todas as técnicas! Claro, os trabalhos têxteis são feitos apenas após o trabalho no campo. Depois disso teve uma demonstração de dança.
Eu fico bem tímido quando essas coisas acontecem, porque sempre sou chamado para entrar na roda. Não deu outra, mas foi indolor. Eles venderam o trabalho deles (ótimos preços, mas franquia de bagagem nada amiga) e nós seguimos nosso caminho de volta até a praia, onde tivemos um tempinho livre. Ver o Titicaca com a cordilheira boliviana ao fundo foi muito bonito. Eu disse que aquela parte da ilha não era muito turística. De fato, o outro lado também não, só que lá há pequenos restaurantes para atender os grupos de turistas que fazem o tour Uros e Taquile. E algumas famílias abrem suas casas para pernoite, o chamado turismo vivencial.
De Taquile fomos para a Península Capachica, na comunidade Santa Maria. Lá, um xamã fez uma demonstração de um ritual de agradecimento pela pachamanca (batatas, banana, favas, peixe e frango cozidos sob a terra). Desenterramos tudo e seguimos para o interior do “restaurante”, onde sentamos em mesas coletivas e nos serviram uma deliciosa sopa de quinoa de entrada. Em seguida veio a pachamanca. Confesso que não curti muito, mas não fiz desfeita.
De Capachica fomos até uma das Ilhas Uros. A ilha era muito pequena, apenas 3 famílias viviam ali. Sentamos para que nos explicassem como era a vida ali e como a ilha era feita. Depois tivemos tempo livre para explorar o lugar. Pudemos entrar nas casas, mas em momento algum nos contaram alguma história triste ou nos pediram dinheiro. Sinceramente, eu me senti um pouco mal de estar ali. Porque, de alguma forma, estava explorando aquelas pessoas, pois as condições de vida eram precárias. Acabei fazendo o passeio no barco de totora e gostei. Demos apenas uma volta ao redor da ilha e vimos o barco do professor – que vai e volta de Puno todos os dias. Do barco de totora fui direto para o barco do tour. Não nos ofereceram nenhum biscoito, de fato, foram muito simpáticos e acolhedores.
Voltamos para Puno por volta das 15:30h – 16h. Eu gostei muito do passeio e realmente não encontramos nenhum outro grupo de turistas. Depois de voltar ao hotel, passei no pequeno museu Carlos Dreyer. Pequeno, mas valioso e assustador com suas três múmias. Não costumo ter problemas com múmias, ossadas e coisas do tipo, mas fiquei arrepiado quando as vi.
Todos me falaram que Puno era feia e coisa e tal, mas eu gostei e achei a cidade simpática. Comi muito bem por lá, no Mojsa e no Café del Corregidor.
Este foi meu dia em Puno. As comilanças em Lima eu já comentei no outro post. Só repito: amei o Peru e voltarei quantas vezes puder!
ps: desculpe o textão!
Alexandre! Bem-vindo!
Adorei seu textão, como você mesmo disse. Foi uma experiência e tanto. Não tivemos a mesma oportunidade e credito esses hiatos à empresa de turismo que escolhemos, muito fraca.
Seu comentário vale uma postagem e só tenho a lhe agradecer. O blog é nosso. Quisera que todos os seguidores tivessem bagagem idêntica para compartilhar.
Muitíssimo obrigada! Pode continuar a postar. Vou continuar adorando. Já lhe escrevi e repito: a casa é sua!
Abraços da…
Marilia.