FRANÇA . PROVENCE . CARPENTRAS – Queijos e Vinhos Para Você Saborear Sem Culpa.

Foto em Destaque: Campos de Girassóis entre Aix-en-Provence e Cavaillon.

Para quem ainda não sabe, nossos roteiros de 2013 e 2014 foram elaborados por Anaté Merger, jornalista brasileira residente em Aix-en-Provence há mais de dez anos, comandante de uma agência de viagens que você poderá alcançar clicando no link com seu nome.

Anaté, além de dedicar-se à carreira de escritora – alguns livros editados após firmar residência em Aix-en-Provence -, aliou seus conhecimentos jornalísticos à atividade que vem desempenhando com afinco e desembaraço na Provence: turismo especializado no Sul da França que você poderá consultar clicando no link abaixo. Mas Anaté não parou aí – expandiu sua atividade com o turismo e atravessou algumas fronteiras. Saiba mais clicando aqui.

Conheci o trabalho da jornalista brasileira por intermédio do blog  de outra brasileira radicada em Paris, o http://www.conexaoparis.com.br, e desde 2011 venho perseguindo as novidades postadas diariamente por essas duas guerreiras de sucesso.

AIX-EN-PROVENCE
Saímos cedo de Aix porque tínhamos uma estrada um pouco longa pela frente, mas mesmo assim não deixamos de passar na feira após o café da manhã; feira quase embaixo de nossas janelas.

Sabores e aromas de Aix.

Alugar imóvel no exterior tem suas vantagens; por outro lado, limpezas em geral, café da manhã e vez ou outra um jantarzinho ficavam por nossa conta.
Vai daí que nesse dia acordamos muito cedo por conta das compras – e da  arrumação do apartamento que já estava bem descabelado – e saímos em direção a…

CARPENTRAS – Feira na Cidade.

Em Carpentras, Isle-Sur-La-Sorgue, Uzès e Apt vimos as maiores feiras dentre todas as comunas por onde andamos.
Já escrevi e repito: Anaté escolheu a dedo as cidades por onde poderíamos serpentear entre as centenas de barracas.
Esse tipo de comércio é atração turística na Provence por muitos motivos e a prova disso é o número expressivo de turistas se esbarrando nos estreitos caminhos.
E para quem gosta do babado como nós, vai unir o útil ao agradável sem erro algum. “E vou-te dizê-te uma côza” (dicionário manezês): bobagem pensar que você sairá desses imensos mercados a céu aberto de mãos abanando.
Prá isso a pessoa tem que ser firme! Ter muita personalidade, e eu não tenho nenhuma quando o assunto é comprar. Principalmente, inutilidades. Para forçar a barra me pergunto algumas vezes: – Você vai, realmente, aproveitar isso? Tem funcionaaado… mas…, quem há de resistir a um patezinho preparado com as mais genuínas receitas provençais ou a um pedaço de queijo daqueles bem fedorentos, mas deliciosos?

Nenhuma feira escapou de nossas investidas. Em todas encontramos alvos saborosos que saciaram nossa gula e curiosidade em experimentar os produtos da terra.
Algumas vezes me surpreendi fechando os olhos em frente à barracas de embutidos, farejando o ar como um cachorro vira-lata faminto. Não resisto, e confesso que sou fraca quando o assunto é comer.

A feira de Carpentras não é tão grande quanto a de Uzès – penso que seja a se maior de todas -, mas ocupa bastante espaço. Toma conta das ruas do centro da cidade e mais algumas do entorno. Todas as feiras, sem exagero, são maravilhosas. Ora é o perfume das flores que está no ar, ora é o dos condimentos…, e não posso me esquecer daquele cheirinho dos queijos e salames. Isso, sem contar as barracas que vendem azeitonas, champignons, alhos e outras delícias já devidamente temperadas. E dá-lhe aromas. Ai, Jesus! Gula é pecado.

Roupas, calçados, bijuterias, camisetas pintadas, especiarias, peixes, legumes, frutas, verduras, champignons, doces, sabonetes, sachês, roupa de mesa, cama, banho, objetos para decoração, artesanatos variados e até redes do nordeste! vimos na feira de Carpentras. Enfim… dá prá fazer um belo estrago na carteira.

CARPENTRAS
tem perfil de cidade grande apesar de a estatística apontar 30.000 habitantes. Nem chega a isso, é um pouquinho menos.
Dista de Aix-en-Provence (nosso QG) em 96,3 km e de Fontaine-du-Vaucluse em 22,3 km. Visitamos as duas cidades no mesmo dia. Leonor, brava motorista, dava conta de todos os recados independentemente das distâncias.

Carpentras foi capital do Comtat Venaissin de 1320 a 1791.
Trata-se de uma região que faz parte do Departamento de Vaucluse entre o RhôneDurance, Monte Ventoux e Dentelle de Montmirail, compreendendo as cidades de Carpentras, L’Isle-sur-la-Sorgue e Cavaillon.
Esse condado ficou sob a administração papal durante cinco séculos.
Profundamente marcada pelas diferentes ordens que se estabeleceram na cidade, Carpentras conserva um patrimônio religioso importante.
Exemplo é a Catedral de Saint-Siffrein, linda, edificada entre 1405 e 1531 em estilo gótico meridional.

SINAGOGA Século XIV

Também testemunha essa época a sinagoga mais antiga da França – século XIV – situada na Place Maurice Charretier, (84200 Carpentras, França +33 4 90 63 39 97).
A cidade é ainda lembrada pela história de uma fonte da qual falarei mais adiante.
A bem da verdade, a construção desse prédio data de 1741/43 e conserva algumas partes da sinagoga que existiu naquele mesmo lugar. Esta sim, datada do século XIV.
Segundo pesquisas, o atual edifício foi restaurado em 1930, 1953 e 1959.
A sinagoga, sempre em atividade, evoca a história dos judeus perseguidos no Reino de França,  e que encontraram refúgio no condado sob a proteção da Santa-Sé.
Esta particularidade histórica encontra-se no movimento do judaísmo provençal e seu dialeto judeu-provençal falado pela comunidade judaica.

Obs: Não fosse a insistência de Leonor, nossa guia, não teríamos visitado a sinagoga.
Apesar de termos tocado a campainha várias vezes e termos chegamos no horário de visitação, aguardamos muito tempo até que uma senhora abrisse a porta.
Não fosse a certeza de Leonor de que havia movimento na sinagoga, teríamos desistido. Valeu a insistência. O que não valeu foi a falta de atenção da senhora responsável pelo atendimento. Não entendi o motivo da demora absurda.

Mulheres ocupam o mezanino durante o período de orações. Tal costume prende-se ao radicalismo do judaísmo ortodoxo em que homens não oram no mesmo local em que as mulheres.

Interior da Sinagoga em estilo Rococó, tal qual as sinagogas italianas construídas no mesmo período.
No século XVIII as mulheres, sentadas em um porão, ouviam as orações e cânticos pelo som que entrava por uma pequena janela.


A FONTE DO ANJO
Quase em frente à sinagoga está a Fonte do Anjo, ” A MAIS LINDA DE TODAS”.
Em 17 de março de 1730, o Conselho Deliberativo da Prefeitura de Carpentras decidiu pela instalação de uma fonte no espaço que ainda hoje ocupa quase em frente à sinagoga e à Prefeitura, considerado o coração econômico e ativo da cidade.

Prefeitura de Carpentras.

Para sua concepção foram convidados dois escultores renomados: Jean-Paul Guigue, que concebeu uma pia hexagonal, um pedestal helipsoidal e não menos que oito máscaras das quais jorrasse muita água.

O outro escultor chamava-se Jacques Bernus, natural de Carpentras, sobrinho do célebre escultor barroco de Mazin, contratado para elaborar o anjo, em chumbo. Esta estatueta foi colocada no alto do chafariz. Esta figura alada representa o gênio da cidade.

Sua mão esquerda se apóia em um escudo no qual constam as armas municipais. Em sua mão direita ele desenrola um filactério* com a insignia de Carpentras: ” Unitas fortitudo, dissentio fragilitas”. Algo parecido com “A união faz a força, a discordância fragiliza” (Fui boa aluna em latim, sem modéstia nenhuma, mas não garanto a tradução).

Fonte do Anjo construída em 2004 em lugar da anterior, destruída à picareta em 1904.

A FONTE TORNA-SE RAPIDAMENTE O SÍMBOLO DA CIDADE
A fonte foi cantada pelos poetas e tornou-se símbolo da cidade, chegando a figurar em cartões postais.
Aconteceu que em 1904, apesar dos protestos dos habitantes de Carpentras, ela foi destruída por decisão do Conselho Municipal. Alegaram que a fonte era um desperdício de água e por isso deveria ser demolida.
A ordem era substituí-la por uma fonte de ferro em que a água só sairia quando manipulada por uma manivela (a bomba manual que conhecemos).
Sem nenhuma piedade nem consideração por seu valor arquitetural, a fonte foi derrubada a golpes de picareta!
Somente o anjo escapou por milagre e hoje faz parte das coleções da Biblioteca Municipal Inguimbertine – 234 Boulevard Albin Durand 84200 Carpentras – +33 4 90 63 04 92

Cem anos após, em 2004, a Municipalidade optou por reconstruir a fonte tal qual o modelo anterior, consciente da importância desse patrimônio para a cidade.

 

COMTAT – FROMAGERIE
Saímos da sinagoga e fomos para a fromagerie chamada COMTAT, onde Leonor havia agendado uma degustação de queijos e vinho.

Solicitamos a orientação de Leonor na compra de queijos, salame, ovos e paté, já imaginando o lanche da noite. Como sobremesa, nos serviríamos das frutas frescas que “colhemos” na feira pela manhã e, voilá, faríamos uma refeição digna de um rei.

A fromagerie é de propriedade de uma família. No dia de nossa visita, na comissão de frente trabalhavam mãe e filho porque o movimento era grande.
Nunca vi tanto tipo diferente de queijo em um só lugar. Além da variedade, as apresentações eram ricas em detalhes; e conforme você pode ver nas fotos, alguns queijos parecem docinhos de festa.

*fi·lac·té·ri·o |lâct| (latim phylacterium, -ii)

substantivo masculino

1. Amuleto; talismã.

2. [Religião]  Caixa, geralmente de couro, que contém pergaminho com textos bíblicos judaicos, transportada no ritual judaico junto à testa e ao braço esquerdo. (Mais usado no plural.)

“filactérios”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/filact%C3%A9rios [consultado em 14-07-2015].
O mais antigo mercado de Carpentras.
Até a parede da Queijaria tem cor de queijo…

 

Degustação de queijos e vinho agendada por nossa guia Leonor.

 

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Quanto maior o mapa hidrográfico em cada queijo, mais saboroso é.
Degustação de queijos e vinhos ao ar livre, em frente à loja.

 

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Massas, azeites, ovos, patês, azeitonas…

Queijos que ora parecem docinhos de festas, ora bolachas para o lanche. E ainda os que se assemelham a uma caixa artesanal, delicadamente ornamentados.
Embutidos, molhos prontos para as massas…

ALMOÇO

O endereço da tentação – nosso almoço supimpa.

 

Vez ou outra saímos para jantar, mas preferíamos providenciar um bonito lanche com produtos fresquíssimos adquiridos nas feiras: omeletes, saladas, massas ou então um café ou chá devidamente acompanhado por queijos, frios, patés, geléias e ainda aquele pãozinho francês estalando de fresco. Nossa mesa era colorida e variada como mesa de festa.

PARA FINALIZAR, UMA CURIOSIDADE
Quando falamos em Provence nos reportamos imediatamente às lavandas e pensamos logo na cor lilás.
Os vinhedos ficam em segundo lugar, e os girassóis acabam nem sendo lembrados! – Ué!… nasce girassol lá, é? – Nasce. E como nasce!…


E quando dizemos que o maior produto provençal é o azeite, aí mesmo é que piora tudo. – Azeite? – É. Azeite. Também “nasce” azeite na Provence. E amêndoas, e nozes, e cerejas, e trigo. E morangos, conhecidos como “fraise”. Na França nasce tudo isso e também nasce francês.

O morango, originário da América do Sul, foi importado na Europa por um navegador de nome Frézier.
Graças à criação do canal de Carpentras, as primeiras plantações de morango foram em 1882. Nos anos 1960 as primeiras estufas apareceram e a produção alcançou 12.000 toneladas.

Mas… a concorrência de países vizinhos levou Carpentras a uma diminuição na produção. Hoje em dia Carpentras produz 4.000 toneladas anuais com 300 produtores, e coloca-se em primeira posição na região da Provence.

O MORANGO
de Carpentras, um dos primeiros da produção francesa a aparecer no ano, é procurado por suas qualidades gustativas: doces, deliciosos, derretem na boca e são perfumados.
Criada em 1999, a Confraria do Morango de Carpentras tem como objetivo tornar conhecido – o mais longe possível – o morango do Comtat Venaissin.

Um conselho: escolha morangos bem vermelhos, sem manchas, brilhantes e firmes. Privilegie o aroma – mais importante que seu tamanho.

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